Quinta-feira, 26 de Abril de 2007
MORRO DO QUE HÁ NO MUNDO
Cecília Meireles
Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.
O meu comentário???
A morte associa-se ao vazio....
À perda de tudo......
Teve-se tudo ou não se teve nada..........
Sozinho???
Morre-se sozinho, apenas com as memórias....
Desesperadas, alegres....
tudo depende da forma como se viveu...
Intolerante, lutador, revoltado, triste, insatisfeito...
Exactamente ...uma circunferência....
Sábado, 21 de Abril de 2007
ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU
Carlos Drummond de Andrade
Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros, na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente,
acima das gramáticas e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
O meu comentário???
Sensação de amar...
De estar viva...............
Glória total.....
Fechar os olhos e respirar fundo...
Tranquilidade...encontrar o essencial............
Amar tudo - principalmente a nós próprios
e em nós encontrar o amor para dar.............
Muito....................
A vida.........................................
P.S.: O COM AMOR tem uma nova cara - espero que gostem.....................
Segunda-feira, 16 de Abril de 2007
TRADUZIR-SE de
Ferreira Gullar
Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:outra parte
delira.
.....
O meu comentário??
Os 2 lados da mesma moeda:
Os extremos....
A vontade louca de partir numa aventura...
A verdade triste de pensar no dia seguinte.......
Refrear, reconsiderar, rever...
Simplesmente palavras ou pensar com cabeça ?
Pensar com o coração
e recusar ouvir a voz séria da cabeça...
O que fazer, então???
Sábado, 14 de Abril de 2007
O SEU SANTO NOME de
Carlos Drummond de Andrade
Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
O meu comentário???
Sim, poeta...
pronunciar amor só quando realmente o sentir.........
Amor é intimidade...
Solidão e vaidade interior...
Grandeza...Sorrisos, enigmas.....
Tudo isso é amor....
Nosso....só deve ser compartilhado
e dito com nudez, então....
A quem verdadeiramente amamos..................
Quinta-feira, 12 de Abril de 2007
Eu regressarei ao poema como à pátria à casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão só mil luzes acesas
Regressarei de Sophia de Mello Breyner Andresen
O meu comentário??
Tantas vezes que regressamos....
Podemos fugir de tudo, menos da verdade que cá dentro há.........
A razão escapa-nos, por vezes,
mas buscá-la representa sempre um desafio.......
Sonhar que conseguimos.......
Mesmo que os pessimistas digam que o sucesso é pura ilusão....
Alguma coisa se conseguirá.......
Nem que seja....
só gritar de paixão.................
Domingo, 8 de Abril de 2007
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
de Mário Quintana
O meu comentário???
Como andar em cima do arame........
Nunca ter a certeza de nada.......
Apenas a certeza de que o Tempo existe....
Cartas, mensagens....
escreve, divaga, discursa, mas depois rasga, destroí, arrasa...
Numa questão de horas, minutos, segundo........
Resta, mesmo apenas, escrever poemas....
Talvez possam apaziguar o TEMPO...............
Sexta-feira, 6 de Abril de 2007
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Espelho Mágico
Mário Quintana
O meu comentário???
Apaixonado continua...........
O tempo pode apagar a intensidade
com que se viveu esse amor..........
Mas não o que sentiu.........naquele momento...
A memória desperta-nos essas sensações,
essa dor, essa raiva, essa pena, esses desejos.............
Por isso, impossível esquecer totalmente o que, um dia nos alimentou..............
Segunda-feira, 2 de Abril de 2007
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mão
se partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,no maravilha
do espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
de Mário Quintana
O meu comentário???
Identificamo-nos com o poema que lemos...
Às vezes, encontramos forma de escrever o nosso próprio poema....
As nossas mãos nunca estão vazias......
Porque acabam por ser as páginas
onde cada um de nós, à sua própria maneira
escreve o seu poema..........
Onde tudo o que somos se reflecte............
Num desejo ou em desespero....