Quinta-feira, 29 de Setembro de 2005
CORAÇÃO POLAR
Manuel Alegre
Há um eu errante e mareante
Não mais que um signo,
Um batimento,
Um coração polar
Algo que tem a cor do gelo
E do antárctico
E sabe a sul
A medo a tentação
Uma irremediável navegação interior
Um navio fantasma
Amor fantástico
Não é como nos sentimos, todos, uma vez na vida?
Sem rumo, sem destino, perdidos no labirinto da paixão, que pode ser gelada ou ter o calor dos trópicos.
Quinta-feira, 22 de Setembro de 2005
REPETIR O POEMA
Isabel de Sá
Só o lume dos teus beijos rompe
A treva onde a solidão nos mata
Enrolamos a vida no escuro,
Na semente de um amor atribulado.
Conhecemos o ritmo e a sede,
A convulsão do desamparo.
No sentido do corpo, no acerto
Desce a força pelos braços
Na violenta festa do prazer.
Tudo o que disseste
No desaforo da paixão
Só podia incendiar a vida inteira
E encher de esperança o universo
Perfeita descrição do que sinto neste momento;
se é ilusão,
se tiver que o admitir mais tarde,
pelo menos gozei o momento!
Nunca me senti tão completa;
nunca em mim descobri sentimentos tão avassaladores!
Será que o meu corpo,desta vez, transmitiu os sinais correctos e alguém os identificou correctamente?
Quinta-feira, 8 de Setembro de 2005
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe de cinza e oiro,
O nevoeiro,
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda
de Sophia de Mello Breyner Andresen
A promessa de um dia de sol,
a vinda de alguém que não vemos há anos,
o regresso a casa do amor, do filho, da irmã
ou mesmo o nosso.
Quando se dissipa o nevoeiro, tal como a Sophia diz, alguma coisa dourada fica!