Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2005
"Prefiro que não, amada.
Para que nada nos amarre
e que nada nos una.
Nem a palavra que aromou tua boca,
nem o que disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos,
nem teus soluços perto da janela.
Amo o amor dos marinheiros
que beijam e se vão.
Deixam uma promessa.
Não voltam nunca mais.
Em cada porto uma mulher espera:
Os marinheiros que beijam e se vão
Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar"
Pablo Neruda - Crepusculario
Como deve ser duro estar-se exilado, saber-se que lá do outro lado do oceano fica a nossa terra e que temos o acesso vedado!
Talvez seja por isso que ele se compara aos marinheiros - a sua lealdade é para com o mar, mesmo que este lhes roube a vida!
Hoje, sinto - me exilada.
Estou no meu próprio País, onde nasci e criei raízes e sinto-me exilada.
Creio que foi a Florbela Espanca que falou nessa dor .... eu hoje identifico-me com ela!!
Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2005
Reli novamente o poema de Vinicius " Ausência" e ele fala em
“nada te poderei dar se não a mágoa de me veres
eternamente exausto”
Talvez ele se sinta cansado, velho, doente e porque a ama, quer poupá-la à dor de o ver sofrer.
Talvez ache que ela deva recomeçar a vida onde a deixou quando o encontrou!
Talvez seja tudo ou apenas e só isso – uma declaração de amor!
Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2005
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos
que são doces
Porque nada te poderei dar se não a mágoa de me veres
eternamente exausto"
- Ausência de Vinicius de Moraes
Às vezes, é o que temos que fazer - deixar morrer em nós esse amor que não conquistamos, que nos desiludiu!
Fica sempre a mágoa e a dúvida - aquela eterna pergunta se tudo seria diferente se tivessemos agido doutra forma.
Mas eu aprendi que nunca devemos deixar de ser o que somos - tu não me aceitaste como tal e por isso, que podia eu fazer?
Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2005
"Tristeza não tem fim
Felicidade, sim...
A Felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento
Sem parar"
Vinicius de Moraes - excerto do poema "A Felicidade"
É como a areia,a onda que brinca com os nossos pés - a próxima pode ser uma surpresa, ser mais violenta, arrancar-nos até a vida!Mas a felicidade é, e continuará a ser sempre, algo, e emprego a palavra "algo", porque não é palpável, que recordaremos com um sorriso, talvez um pouco triste, mas um sorriso!
Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2005
"
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
"
Um pequeno excerto do poema "Motivo" de Cecília Meireles, que escolhi porque hoje não estou de "luto".
Quero dizer, sinto-me "completa".
Não é que esteja a viver uma grande paixão, integrada num grande projecto ou a planear uma viagem exótica.
Nada disso!
Estou apenas a ser eu - calma, confiante e com esperança!!!
Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2005
"Amo-te". Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas.
Um poema d'Amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então..brandas...serenas
Cinco pétalas roxas de saudade.."
do poema da Florbela Espanca, "Escreve-me"
Foi o que sempre esperei e o que nunca disseste!
Nem uma rosa ou um bombom me ofereceste!
Apenas dor.....porque nem honesto foste!
Continuo sem decidir se te devo odiar ou simplesmente ignorar!!
Porque nunca vou esquecer esta dor!
Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2005
Doces ilusões sobre o amor!
Doces sonhos!
Mas mente quem diz que nunca sonhou com um amor assim!
Profundo!
Em que desejamos ser cavaleiros andantes
para que todos saibam como amamos!
Que usamos o amor como troféu!
Como resposta a tudo!
Mas... o pior de tudo é o mas!
Aqui estou eu, baralhada de novo!Já não sei quem é a criança mimada aqui! Eu não sou obrigada a fazer o que tu queres!
Tenho direitos, responsabilidades, sonhos, que posso ou não partilhar contigo ou com outro pessoa.Não quero viver a minha vida nesses moldes - a vida não pode ser uma ameaça perpétua!Lembro-me dum certo excerto do poema "Discurso" de Cecília Meireles, que descobri recentemente:"Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?
Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
"Deixa-me em paz; EU SOU UMA PESSOA!Nunca, mas nunca te esqueças disso!
Terça-feira, 11 de Janeiro de 2005
Voltando ao poema de Sophia de Melo Breynor Andersen, "Ausência", eu acredito que haja um amor assim.
Amor profundo, limpído, sentido, completo em que a partida dum significa a derrocada do outro.
Nada tem a ver com fragilidade - tem a ver com o sentimento em si, com a dedicação, com os olhares secretos, que todos notam, mas ninguém descobre o significado!
Um amor forte, nobre, engrandecido com a música de Vivaldi - As 4 Estações - o princípio, o auge, a descida e o fim!
Ou a paixão, o amor, o conforto e a morte!
Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2005
Engraçado pensar como a tua ausência não me é pesada!
Há um poema da Sophia de Mello Breyner Andersen, que fala nisso:
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Eu lembro-me, sim da violência das tuas palavras, do medo que senti!
Foi um acto de coragem enfrentar-te novamente, mas descobri que, afinal és muito "pequeno"!